Você se lembra de quando tinha 7 ou 8 anos, e foi passar um fim de semana na casa da sua tia, no interior? Hoje, com o fim tão próximo, tenho uma visão mais clara da minha vida, e esse é um dos poucos momentos de que me arrependo.
Era um sábado, lá pelo final da manhã ou começo da tarde. Fazia frio, mas o céu estava bonito e até as nuvens pareciam radiantes, ou então era tudo felicidade minha porque as férias estavam chegando. Não importa... Nas palavras daquela época, eu diria que sua tia parou o carro do meu lado para mostrar o menino mais ou menos da minha idade com quem eu poderia brincar; você abriu a janela de trás, ficou em pé no banco e colocou a cabeça para fora, com um ar meio pensativo; eu era tímido demais pra falar qualquer coisa e vocês tinham me pegado de surpresa. Nas palavras de hoje, eu diria que fiquei com vergonha de ter sido visto ajudando o meu pai a consertar o poste de iluminação em frente à minha casa, e que me senti sujo e descabelado - como se eu não pudesse ser uma criança no final da manhã [ou começo da tarde] de sábado, pijama, dentes por escovar e brincadeira de fingir que pode consertar o poste. Pela primeira vez na vida, senti que eu deveria ser mais do que aquilo. Deveria ser algo de que você gostasse, e eu me parecia muito bobo pra isso.
Você me inquietou, guri, mas me deu esperança infinita com o seu olhar. Ainda não consegui entender exatamente o que ele transmite - algo de amplo, de forte, de plácido; algo de alegre - mas vez ou outra, sem muito esforço, vejo o seu rosto na minha frente, com a mesma intensidade.
Me arrependo de não ter falado contigo, Jorge. Sua tia me disse algumas palavras e o seu nome, então arrancou o carro e eu nunca mais te vi.
Já me conformei com o fato de ter que partir, e acho que vivi uma vida razoável. Não fiz nada que pudesse ser muito criticado, só uma ou outra escolha equivocada, mas acontece com todo mundo. E é até bom que aconteça, para que possamos aprender.
Só que... a minha vida inteira eu carreguei um nó na garganta, Jorge, e só agora que o laço que me prende à vida se afrouxou sobremaneira é que eu conheci as palavras de que esse nó é feito. Desde os 9 anos de idade, Jorge, um nó na garganta. Desde os 9, Jorge.
Eu te amo
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