quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Pequena poesia em prosa (17/7/07 No ônibus, à noite, no Rio de Janeiro)

Sobre sapatilha preta, cartola alva e rubra. De cabeça baixa e escondida, foge de tudo o que é pungente. Imersa em música, parece buscar forças no refrão, admitindo: "I'm afraid". É essa sua distração maior. Será algum tipo de luta?
As mãos dentro do moleton desbotado sentem frio: a menina ao seu lado dorme. Olhos fechados e cantarolantes, ela sente que a menina está ao seu lado: mas ela dorme. Não faz mal, não vai durar. Ela está, sempre, no singular. E, sempre, pr'aqueles plurais, parece ausente demais.
A cada porta que se abre, ela deseja ser apenas a lua, que passeia no mar, ou a areia, que se refresca (um pouco de serenidade, só isso). Não precisa de abrir os olhos e virar-se pra janela pra saber que é assim. Fora dela é tudo tão estável...
São assim os singulares, vivem e sonham mais profundamente. Mais profundos também são os machucados, e nem sempre os cortes fecham. Chega um ponto em que é possível ignorar a dor, de tão costumeira... Como sei? Nossos olhares se cruzaram algumas vezes, e nada além de um espelho ela viu atrás dos meus óculos.

Um comentário:

Leticia disse...

Que triste e lindo.
Inspirado mesmo! hahaha
Beijos,
Leticia.