segunda-feira, 30 de junho de 2008


a n a t u r a é e t e r n a
a n a t u r a é t e r n u r a
a t e r n u r a é e t e r n a
h á t e r n u r a é n a t e r r a

terça-feira, 10 de junho de 2008


Ex tava

estável.
Eis
na esquina
o esboço
do ex tanto -
do ex moço.
Esquadrinha
o espantalho,
instantânea
dispara
na ex-quina
do espelho.
Despedaça-se,
espele,
ex-pele!
Inspira,
explode.
Expira,
implode.
Executa,
exulta.
Ex tava
in(s)pirada.

terça-feira, 3 de junho de 2008

Fotografias literárias da Inconfidência

Outro a ser revisto.


Não foram poucos os críticos do “Romanceiro da Inconfidência” que disseram haver uma união entre história e literatura nesta obra de Cecília Meireles. De fato, ela narra os acontecimentos da Inconfidência Mineira, com foco naqueles cujos protagonistas foram os poetas árcades e o alferes Tiradentes. Para isso, porém, conta mais de um século da história mineira: o enredo se inicia na descoberta do ouro e vai até os últimos anos do século XVIII.

O livro foi inspirado na tradição ibérico-medieval de narrar acontecimentos através de pequenos poemas cantados, fáceis de serem memorizados (pela musicalidade fluida obtida com rimas, ritmos, aliterações e assonâncias), os romances. No total, é composto por oitenta e quatro deles, quatro cenários e duas falas (que podem ser entendidas como prólogo e êxodo).

Cada romance conta um episódio independente dos demais, apesar de muitos deles estarem em intrínseca relação, e tem um personagem principal. São curtos, embora seu conjunto seja abrangente: os fatos são colhidos em essência, de uma forma que faz leve a leitura, e estão presentes até elementos da cultura popular mineira.

É surpreendente a versatilidade da poeta: sua habilidade permanece intacta no trânsito entre os mais diversos esquemas métricos, capazes de acentuar a carga emotiva de seus versos, intencionalmente. Usa tanto métricas ilustres, como tercetos de decassílabos em rima dantesca (na fala inicial), quanto populares, como as redondilhas.

A linguagem e muitas imagens, porém, são típicas da poesia de Cecília. Os que não estão acostumados com ela podem ter dificuldade em visualizar claramente as cenas. Basta um pouco de prática, no entanto, para que as brumas se dissolvam e o leitor se torne expectador da história que se compõe sozinha, alheia a ele, à autora, aos conjurados.

Mesmo o rico lirismo da obra é fotográfico: Meireles colhe como ninguém a condição humana e a reflete no texto, para instigar a reflexão sobre ela. Não por acaso, os três ciclos que integram a obra estão em ordem ascendente de valor: o ciclo do ouro, do diamante e, por fim, o da liberdade – “essa palavra que o sonho humano alimenta, não há ninguém que explique e ninguém que não entenda”, como se fosse ela o último e desesperado desejo das Minas em decadência., o último e desesperado desejo de todo e qualquer homem.

Como a própria autora disse, o “Romanceiro” não julga. Se assume nitidamente o lado dos revoltosos, é porque se faz porta-voz da memória coletiva