segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Dessas coisas que a gente tem que escrever pra escola...


Mirou-se no espelho. O seu primeiro olhar, afável, bastava para que sentisse dilacerar, sob a roupa esgarçada de dormir, aquele corpo murcho. Outrora ardentes, seus olhos, assim como seu corpo, estiveram entre os mais cobiçados de Paris. Homens e mulheres procuravam-na e, hábil, vestia para cada um a faceta mais adequada. Ora relutante, ora complacente, aplacava enfim suas angústias ao deixar-lhes cingir com os braços incertos sua cintura desprotegida.
Louvava os corpos e ânimos puros, mas sabia que, no fundo, nem mesmo os mais morigerados estavam intactos.
Ainda não havia compreendido por que deixara a vida fácil para constituir família - ou talvez lhe faltasse a coragem para admitir: amara de fato aquele homem, nos primeiros instantes. Apenas não se conformava ainda em ter-se fixado naquele sentimento - ela, que se fixava em uma emoção tanto quanto um patinador no mesmo ponto do gelo! Durante toda a vida fora abelha, que se nutria de efímero pólen, muitas flores por dia. Duas vezes se fixara: uma, naquele amor; outra, neste amargo arrependimento.
Cansou-se, enfim. Quis liberar-se daquele enfado, voar novamente de experiência em experiência; mas deixara-se perder as asas. Abriu as janelas, nem pensou, só restava uma liberdade.